27 de nov. de 2007

Orgulho


Sua cabeça parecia estar fora do corpo. Tudo a remetia àquele momento. Foi há tanto tempo e, na certa, faria diferença se ela tivesse falado alguma coisa. Não obstante, preferiu calar-se e todas as suas coisas foram colocadas de lado. Sua vida ficou despedaçada.
A miséria emocional que se encontrava era grande. Seus afetos, às avessas. Iria morrer mais um dia, se não voltasse atrás. O orgulho era demais. Sua casa é sombria, seus móveis escuros parecem dizer quem ela é. Sabe o que precisa fazer para deixar entrar luz em seu coração. Ainda não está preparada para tal passo. Sua energia encontra-se esgotada. Não se lembra mais das alegrias que a motivavam a cantar e dançar. Caminhava lentamente sobre chão macio; dava-lhe a sensação de queda e vertigem. Suas roupas eram simplórias, de cores sem tonalidades. Sua mente esgotada, apenas descansava quando sonhava acordada. Lembrava-se do amor que partira. Todas as falsas verdades haviam sido ditas e ela não conseguiu dizer uma única palavra que fizesse sentido. O rio corre lentamente, o tempo escorre. Ela se dissolve em lembranças e embaraços. Quanta miséria! Não sabe mais nomear o que sente. Sofre de sofrimento é o que ela diz. Às vezes acorda na madrugada, gritando o nome de seu amor. Ele se foi, ele se foi. Lágrimas e água se misturam no gole. Precisa dormir em paz. Precisa dizer apenas a palavra. Que palavra? O que outras mulheres diriam para manter por perto o amor? Ai dela, que sofre sem saber do maior tormento: não sair de si e se doar. Quanta infelicidade!


Marisa Speranza