7 de ago. de 2012

Delírio de Joana



    Ressentimento é ficar sentindo há muitas léguas. Tudo se transforma em apertos e obsessões. Joana precisa sair do lugar comum, da moral que se estabeleceu a partir da vingança.
    Ser mulher é se machucar com excesso de expectativas. Romântica, feroz em sua performance sexual e o espelho grita.
    Todo começo é de sedução, de olhares, de decotes indecorosos. Mulher que se torna objeto; ela quer o corpo perfeito, nos gestos gentis, faz sua mágica com maestria. 
    Em seus pensamentos mais obscuros, velados a luz de velas, declara para si mesma que quer aquele homem para si. Mas, ele não a quer; só para se divertir no mais carnal de corpos entrelaçados.
    Ele some. Ela liga, liga novamente. Ele está no banho, jantando ou ocupado. A angústia cresce. Ela quer o homem de qualquer maneira. Seu cheiro, sua pele, suas mãos, seu pênis falam através de seu corpo saudoso, ansioso por mais mil vezes.
    Joana devaneou. Se entregou à imaginação de um final feliz. Ledo engano.
    Tudo pulsa em seu ser. Amor e ódio, fruto da rejeição, se misturam na ideia  frenética de possui-lo. Afinal de contas, ela o comeu. Ela tinha o vertiginoso controle do gozo dele. E ele não atende o telefone. Ele não a quis mais. Jogou-a fora como papel.
    Ressentimento, vergonha, frustração. Diz para si mesma que ficará isolada, que os homens não prestam, que a vida é uma merda. Não alcança seu vazio, projeta suas carências na maior cara de pau. Sente-se enganada, ludibriada. Passa por momentos de melancolia e histeria. Quer se valorizar. O que afinal isso representa? Já não sabe mais; é de um outro tempo. E o tempo se esgotou.
    Marisa Speranza