29 de fev. de 2008

Em vão

Ninguém sabe ao certo o que lhe aconteceu. Já se passou algum tempo e ela não aparece na casa. Saiu de repente, sem olhar para trás. Parece que se encontra em outro mundo, feliz e cercada de boas pessoas. Quisera um dia, desfazer as malas e ficar para sempre. Duvidava se teria raízes. A necessidade de mudança era tão vital como a água e alimento. Sei de alguma coisa porque li suas cartas e sempre senti que ela não ficaria, apesar de aparentar calma, como se sentisse acolhida. Mas os olhos transmitiam uma inquietude, uma busca como se estivesse na grande África e a qualquer momento pudesse ser presa de algum predador. Eu a observava, seus gestos gentis, seu andar firme e sedutor. Da janela branca, via os lírios e as rosas, tão contrastantes. A paisagem era verde e azul, próprias da natureza. A cotovia cantava pela manhã e ela acordava, se espreguiçava e mordia uma fruta. Mais um dia se iniciava e sua ânsia de viver era grande. Sentava-se na varanda e escrevia horas a fio. Seu semblante era de quem devaneava outras miragens. Sua coxa, de fora, ao vento, era firme. Seu robe branco contrastava-se com a pele macia e morena. Possuía uma sensualidade que ultrapassava os muros invisíveis. Quando eu a encarava, sabia que partiria. Ela sabia que eu sabia e não conseguíamos falar com palavras. Um dia, acordei e não senti seu perfume. Procurei em vão,encontrei apenas cartas e algumas jóias. Sentei-me perto da lareira sem calor e chorei. Ela partiu porque precisava ser livre.

Marisa Speranza