29 de jun. de 2008

Ela não tem nome

Ela abre e fecha as gavetas. Corre para um lado e outro à busca de acessórios. Sua vida depende dessa noite mais uma vez. Ele ligou depois de quatro dias de ausência. Já tinha se consumido em sentimentos de rejeição e desamparo. Quanta nostalgia! A espera valeu a pena. Quando seu celular vibrou o nome dele, seu corpo também. Tentou disfarçar a emoção, se fazendo serena, apertando a garganta. Sua vontade era gritar , mas sufocou e, aceitou o convite para sair, como se aceitasse ir na esquina. Para falar a verdade, ela não passaria mesmo muito da esquina. Ele não a levava a lugares interessantes; apenas a bares e depois viria pra sua casa e se amariam. Ela já sabe que no dia seguinte, com a barba cerrada, ele irá embora dizendo: qualquer hora dessas, eu telefono. Sua alegria transforma-se imediatamente em desespero. Seu amor é masoquista, não sabe se impor, não sabe se respeitar. Quando está só, divaga que tudo será diferente, que não se submeterá a seus caprichos. Seu coração amolece diante da voz sedutora e leve. Aliás, seu ar brejeiro a encanta Parece um homem-criança que toda mulher que aninhar nos braços. Imagina a vida a seu lado. Quando ele parte, ela chora. São 8:10h. Ele disse que chegará às 9:00h. Quanta agonia! Uma doce agonia. A tristeza suspensa até o amanhecer. Agora ela é movida pela esperança, por aquele brinco que o hipnotizará. Aposta tudo no perfume, na calcinha de renda e no creme que hidrata seu corpo. Imagina suas mãos acariciando-a mais tarde. Sente vontade de chorar e sorri. Não quer ficar com uma expressão fechada. Ela precisa estar feliz para encantá-lo. Não pode se dar ao luxo de ser ela mesma. Ele quer apenas saciar seus desejos. Ele, às vezes, é generoso, parece lembrar-se que ela é uma mulher; frágil, encantadora e humana. Faz um carinho em seus cabelos como se estivesse brincando com uma criancinha. Ele chega a sentir um pouco de compaixão porque sabe como ela se esforça em fazê-lo feliz.Mas ele ainda não sabe o que quer. Ele sabe que não irá durar. Ela chega com seu sorriso perfeito, seus saltos altos e diz um oi todo derretido. Nesse momento, ele se emociona ao vê-la. Arranca com o carro e deixa-a na calçada. Por uns segundos ela não sabe o que fazer. Depois, tira os sapatos, volta pra casa e abre um vinho. Em sua solidão, fecha os olhos e, pela primeira vez, entende que os homens ainda têm coração. Ela sorri e se perdoa. Devagar, retira os acessórios. Nada depende dessas coisas, descobre. Todo encontro é acaso. E, se por acaso nos encontrarmos...
Marisa Speranza