3 de mai. de 2008

Síndrome de Mulher


"Quero casar ou ficar solteira?" a pergunta está impregnada, de forma obsessiva, na maioria da cabeça das mulheres. Quem está solteira, quer se casar e quem está casada quer comprar uma escada e, finalmente, trocar a lâmpada. Claro, que não estou referindo-me a todas as mulheres e sim às que se queixam. "meu marido é isso", "meu marido não aquilo...", "meu marido preferiu..." e assim por diante. As solteiras dizem: "queria ter tanto uma família, filhos" - as que não querem dizer que queriam marido, "será que nunca me viram?" "Por que os homens não querem se casar comigo?". Dúvidas cruéis... Como a crônica é para mulheres, não vou dizer que o mesmo acontece com homens. Talvez em outra hora. Por enquanto, adianto que, casada ou solteira, o que vale é a falta. Arranco meus cabelos até porque, além de ser psicoterapeuta, também sou casada. Entendo os dois lados. Não o dos homens, não nessa crônica. Compreendo que a falta é sempre a do desejo. Ou tenho desejo do que não está presente. Confuso? Penso que as expectativas são muitas e, na maioria das vezes, insatisfeitas. Por quê? Eva pergunta a Adão se ele não poderia ter se controlado. Ela é uma mocinha que, acreditando no "paraíso" foi traída por uma serpente. Sendo assim, a pergunta fica para os psicanalistas: homens têm falo e as serpentes têm forma fálica. Conclusão: quem caiu na lábia de quem? Voltando às idéias para não me perder, para cada mulher insatisfeita, há um homem muito bem humorado, segundo a perspectiva dele, que nunca reclama, gosta de coisas simples, não gosta de shopping e, além do mais, hoje em dia é bom pai. Pega até os filhos na escola. E, quando cozinham? Tornam-se perfeitos. As mulheres executivas executam seu falatório infernal e gritam que querem que homens as resgatem, seja lá da "solteirice", seja lá do "abandono". Essa sim, é a verdadeira guerra dos sexos.Penso que, como psicoterapeuta e mulher, a solução está no diálogo. Então vamos dialogar até o dia do juízo final. As mulheres dizem o que pensam, esvaziam sua histeria, sentem-se culpadas e, têm o bom senso de serem boas mães, inclusive de seus maridos. Para quem ainda não tem, é questão de tempo. Mulheres e homens finalmente estão dialogando. Elas falam e eles escutam ou então ambos berram. Passada a semana da lua-de- mel, algo acontece. Eles se encontram repetitivos: ela fala e ele escuta. Se ele falar, é porque não está entendendo. Pensa que deve ser alguma partida de futebol e que a mulher não pode marcar o gol. Quanto está o jogo? Diálogo parece empate. Não vale. Alguém precisa ganhar. Mesmo que o jogo seja "sujo". As mulheres fazem beicinho; os homens fazem caras de bravos e, para fazerem as pazes, resolvem então não dialogar. Decidem fazer muito sexo para apaziguar os ânimos. Ela compra perfumes novos, muda o cabelo e pinta suas unhas de vermelho. Chega em casa, pensando na grande noite, na tentativa de recuperar a lua-de-mel. Ao chegar na casa, ele não nota seu cabelo. Isso é apenas um detalhe. Ela espicha suas lindas mãos, ainda frescas e ele pergunta: "Desde quando você pinta suas unhas de vermelho? Parece que você as esmagou na porta" Derrotada, ela começa a gritar: "Você não tem nenhuma sensibilidade, cortei meus cabelos, pintei minhas unhas, comprei perfume e você nem me vê". Ele, com cara de tonto, sem culpa alguma porque não viu nada mesmo, diz sem graça: "Ah é... você cortou o cabelo. Está bonitinha". É o início do caos. Ele perdeu o fio da meada. Na falta do que falar, ele começa a gritar com ela porque não viu, mas pegou a calça no tintureiro e ainda fez compras. Ela sente-se culpada, afinal ele é muito bom e ela é que não tem nenhuma sensibilidade. A relação tornou-se um pouco, muito ou demais perversa. Qual estágio você se encontra? Quer morrer? Ainda não. Pensa em soluções mais honrosas. Quais? Ela pensa que vai se vingar, arrumar um outro homem que a veja. Ela lhe diz isso e ele, com um medo danado que ela o faça, faz cara de paisagem, "tô nem aí" e diz: "Então vai, arruma outro que ature esse seu maravilhoso humor". Ela bate a porta e fica arrasada porque ele não vem para fazer as pazes e dizer o quanto ela é linda. Fiquemos assim, por enquanto. As solteiras dizem: "Mas, elas puderam se casar e eu não". Existe alguma coisa no nosso imaginário que diz que a vida sempre será maravilhosa já que você quis tanto. Desde quando a vida é bela todos os dias? Às vezes, estou muito triste, às vezes muito alegre e, às vezes, estou no fluxo de alguma coisa que ainda não sei o que é. De qualquer forma, dialogar, fazer sexo, gritar, brincar e brigar fazem parte da vida de todos nós. Na luta por uma vida melhor, o que vale é a luta. Independente se ela corta o cabelo e pinta as unhas, o beijo selado e o encontro de peles, se faz presente quando pessoas se gostam de forma verdadeira, não tão em paz. Verdadeira, inteira e, sempre, na promessa bem intencionada de que "amanhã" irá encontrar a alegria de ser vista e reconhecida, seja solteira ou casada. As doenças da solidão acontecem quando não se é mais capaz de sonhar ou de buscar a realização dos sonhos. Não se trata de felicidade eterna como nos contos de fadas e sim, da lucidez de manter-se atenta ao outro que lhe serve de espelho para suas ambições. Amor é acalanto, amizade e paixão na dose certa para ser possível viver as diferenças e o verdadeiro encontro. A nudez d'alma é a única possibilidade de se fazer sentir e apropriar-se de si através do outro. Pode-se sorrir e se saber que, independente se ele viu ou não naquele dia seus cabelos cortados, sentir-se bonita e ser bela no olhar da pessoa amada é antes de tudo, poder ser gentil consigo mesma.
Marisa Speranza