8 de set. de 2008

Insônia


Mexendo nas orelhas,adormeço. Sonhos me agitam o coração e, na exaustão, acordo. Fico o dia todo tentando equilibrar as forças que se agitam dentro de mim; estou sem foco. O dia passa e as pessoas por mim, sem eu querer interagir, nem conversar. Como vampiras, elas tentam sugar o que resta da noite passada, essa mal dormida. O banho que eu tomo é quente, deixo cair o óleo que acaricia a pele, como veludo. Estou pela metade, cumprindo um ritual do cotidiano. Saio pelas salas e quartos a procura de algo que me faça voltar. Pego um livro, releio páginas tão desgastadas e nada consegue me alcançar. Vejo um filme chato. Ou eu estou . Ambos nos encontramos no tédio da meia-luz, da outra noite que está por vir. Preciso dormir, me deixar cair, me deixar levar. Preciso de outro ser que me embale no inverno, que me faça esquecer das promessas não cumpridas, dos amores não amados. Tanta coisa ainda vive,mas desordenadamente. Uma parte do insconsciente vaza e me vejo meio louca. Posso gritar, triunhar sobre falsas mentiras. Como as coisas são repetitivas! As mesmas coisas são ditas de formas diferentes. Nada se cria, tudo se refaz, do ontem, se faz o hoje. O futuro humano, caótico e apaziguador ainda está por vir. Essa natureza humana que insiste em ser a mesma. Versões de culpa, ressentimento e mágoas e, todos presos, nos grilhões do tempo. Do mesmo tempo. Faço de conta que amanhã será diferente. Vou acordar, darei um bom dia sem animação para aquele rosto tão mentiroso quanto eu. Falarei qualquer besteira, perguntarei algo como se estivesse interessada. Não cabem mais mentiras no mundo. Sou o que fizeram de mim. Palavras aprendidas, máscaras virtuosas, na tentativa de enganar. Nada disso eu quero dizer. Sinto-me uma estrangeira dentro de meu próprio ser, ofegante, pálido, sem vida. Não quero a morte porque ainda não estou preparada para que sintam minha falta. Preciso desapegar. Odeio religiões mentirosas que iludem as pessoas a acreditarem em seus egos imortais. Quanto narcisismo, não dar lugar à vida quando seu fim chega. Nada pode ser absoluto; não teria a menor graça. Essa coisa de continuidade é para os fracos, das pessoas que não têm coragem de viver no vazio, no escuro, no silêncio. Hoje quero o mundo calado, sem ruídos, brincando de morte, brincando de coisas mais verdadeiras. Não quero mais me enganar. Me dá náuseas ter que fingir e saber que fingem prá mim. O mundo dá voltas, em zigue-zague e nada é igual apesar de parecer. É porque as mesmas palavras nos atrapalham. É sempre a mesma porcaria de letras e de discursos. Queria a arte de se criarem novas formas de ser, de existir. Nada de palavras ôcas e de clichês. Nada de excessos de sentimentalismos aprendidos. Tudo é cultura, é a chatice de fazer-de-contas que sou mais que você e assim vai. Todos os dias podem ser noites. O meu dia foi noite, não porque estivesse infeliz. Aliás, outro modo de nos chatearem é quererem interpretar o que sentimos ou de que forma nos conduzimos. Tanta mediocridade não deveria ocupar o espaço que pertence ao oxigênio. Hoje quero uma noite de luz, de vida, dos sonhos dourados, sem palavras, sem medo. Apenas fantasias. Quero um sonho do impossível, das coisas que não alcanço, da idéia de um mundo que não cabe em si. Conhecemos as estrelas, a lua e o Sol. Chegam aos nossos sentidos. Quero um deus diferente, além do universo e das explicações místicas. Quero excesso de sensação, de profundidade e de êxtase. De forma singular, que pertença apenas a mim e que ninguém possa explicá-lo.
Marisa Speranza

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