17 de jul. de 2007

A loucura de Cintia


Cintia começou a gritar de desespero. Havia morrido? Talvez estivesse no inferno por tantos pecados que cometera. Era apenas o pesadelo de sua própria vida. Quando acordou e se viu tão angustiada, correu para o telefone prá falar com a outra qualquer e escutar: "Não, querida! Você é maravilhosa. Você tem a sabedoria. Não fique assim,Cintia. Você é doce, generosa e nada lhe acontecerá." Como lhe fazia bem essas palavras porque sentia que era superior a tudo e a todos. Tinha necessidade de ser vista, ouvida e reconhecida. Viveria sem nada,mas sem espelho nunca.Como sofria de excesso de imagem! Sua pele alva, quase morta, dizia-lhe que não tinha vida própria; estava presa a seu ego, a sua canastrice de todos os dias. Bebia da hóstia das palavras proferidas por um oráculo abandonado. Quanta tristeza lhe pertencia. Era alvo de sua própria ironia e da necessidade desenfreada de poder. Sofria de mal estar e desde criança se imaginava como salvadora, uma heroína do universo Nem a loucura a agüentava mais; seu delírio não tinha fim. Há muito tempo perdeu a razão. Nem sabia se já estava morta. Delirava seu próprio enterro e imaginava, que ao ser velada, o mundo inteiro chorava sua morte.Quantas chorariam por mim? Quanta carência! Cintia sempre foi estrábica porque sofreu de excesso de reflexo. Não tinha foco e nunca aprendeu a enxergar o mundo como ele é.Não acompanha seus movimentos. Prá se sustentar, Cintia é presa aos rituais de iniciação e destruição.Às vezes, se vê como Prometeu, aquele que roubou o fogo para a humanidade. Mas, na verdade, Cintia, no mito, seria apenas o abutre.


Marisa Speranza

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