22 de ago. de 2007

Conto de Alma


São 15h e Alma quer ir embora dali. Não agüenta mais o trabalho de ter que driblar tanta gente. Ela trabalha com a política da empresa e desde pequena já manipulava seus pais. Não suporta mais essa vida; quer paz, alguém que a acolha e diga que está livre. O dinheiro é muito, ela compra seus batons e esmaltes, duas manias que têm. Será que seu marido suportaria tanta futilidade? Ele logo diria: Alma para quê você quer essas besteiras? Alma pensa, desolada, que terá que continuar nesse trabalhinho. Seus sonhos são grandes, não são de riqueza. Ela se imagina numa praia conversando com meninos pescadores e, quem sabe, pegar um peixe também. Seu pai pescava e, às vezes a levava. Ela não gostava, mas agora sente saudades já que ele se foi. Talvez tivesse alguma graça pescar e ver o peixe morrer e depois comê-lo. Não gosta de maltratar animais, muito menos peixe. Na verdade, gosta de ver a rede ser lançada ao mar pelos pescadores, mas ao longe. O pôr do sol. Alma tem mais dois irmãos e, como caçula, tinha que fazer das tripas, coração para ter mais. Sempre lhe diziam que ela poderia esperar. Com isso, ela aprendeu a arte de dar a volta nos outros e conseguir o que desejava. Na verdade, Alma tinha um bom coração e encontrava-se presa em sua própria vaidade inventada. Quem a olhasse diria que era de pedra, que não tinha sentimentos. Vivera assim e sempre teve receio de mostrar sua fragilidade; poderiam pensar que era fraca. Tem um rosto bonito, claro, resoluto e sorri pouco de forma simpática. Seu olhar é duro, sua postura ereta transmite um ar de austeridade. Assim Alma sobreviveu ao mundo. Agora, precisa sair do transe, voltar para a sala de reuniões e vender o produto para seus clientes ingênuos. Alma pensa: um dia, vou fazer alguma coisa que gosto. Levanta-se, ainda, com sua soberba habitual.

Marisa Speranza

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