1 de mar. de 2009

Abandonando

A porta se abre e ela o vê. Com ar distraído e trazendo um lindo buquê de flores, ele sorri. O sofrimento do dia anterior se desvai momentaneamente e, ela, emocionada, joga-se em seus braços. Ele entra, vislumbra a sala clara, com suas paredes cor de marfim. Gosta da casa dela. O contraste das cores, o deixam encantado. Ela senta-se em seu sofá verde musgo e pergunta-lhe se quer beber algo. Quer uma vodca com gelo. Apesar dos beijos e dos abraços, a atmosfera era densa. Havia coisas a serem ditas. Ela olhava-o com a certeza de seu amor e de sua desconfiança. Era o impasse de sua vida. Dois sentimentos contraditórios e queria tanto se sentir segura, amada e confiante. O aroma das flores agora, imponente, permitia o silêncio ter voz. Ele jurou-lhe amor, disse que não houve nada demais, que ela poderia confiar no que dizia. O ar de menino travesso que um dia ela se apaixonara estava presente novamente. Ela levanta-se candidamente e pede licença. Caminha até a varanda e olha a vista deslumbrante. Precisa pensar, mas já sabe das respostas. Sua vida está em jogo. Qualquer resposta seria inútil. Teria que viver sozinha porque ele não sabia lidar com as responsabilidades. Seus olhos viam uma coisa e seu peito, acelerado, outra. A imagem de mandá-lo embora era devastadora. Deixá-lo ficar também. Retorna da varanda e quer prolongar o momento. Olha-o profundamente. Ele diz: não sei o que dizer, não sei do que você precisa. Gostaria tanto de entendê-la. Você exagera muito suas emoções. É melodramática. Às vezes, não sei o que você quer de mim. Sinto-me exausto. Mas, amo você. Sinto-me muito triste por não fazê-la confiar em mim. Ela se levanta, pega uma vodca também e responde: você se parece muito com o meu pai e não sei se suporto isso. O abandono, a rejeição e a impiedade foram insuportáveis. Tenho medo, muito medo de correr o risco e tudo se repetir. Ele responde: tudo se repete, de um jeito ou de outro. Você precisa se fortalecer, ficar além de mim. Não somos a metade de uma laranja. Somos pessoas únicas, diferentes e não quero lhe garantir nada. Sei apenas que amo você. Ela pega as flores, coloca-as num jarro e pede para ele ir embora.Quem sabe um dia, ela ganha juízo? Seu beijo é suave, amargurado. Por não suportar, ela o abandona.
Marisa Speranza

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