10 de jun. de 2007

Na ilha por vezes habitada


Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,manhãs e madrugadas em que não precisamos morrer.Então sabemos tudo do que foi e será.O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, e dizem-se as palavras que a significam.Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.Com doçura.Aí se contém toda a verdade suportável : o contorno, a vontade e os limites.Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável,porque mordeu a alma até aos ossos dela.Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raíz.Cada um de nós é por enquanto a vida.Isso nos baste.

José Saramago


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